Cadê meu celular? - nomofobia

05/07/2017

Matéria jornalística publicada na revista ETHOS, ano 02, edição nº 10


Quantas vezes você já conferiu seu celular hoje?Se você nunca o desliga, se sente mal quando o esquece em casa e têm medo de perdê-lo, você pode ter nomofobia.


Há pessoas que não conseguem ficar sem o celular nem por um instante. Deixam o aparelho ligado 24 horas por dia e se vêem em crises de abstinência quando estão sem ele. O nomofóbico sente a necessidade de deixar o celular ligado todo o tempo e de levá-lo em todos os lugares, como no banheiro, ao lado da cama enquanto dorme ou para o box enquanto toma banho; Não consegue se afastar do celular e ,quando o esquece em casa, volta de onde estiver para buscá-lo; Sente-se ansioso, angustiado e inseguro quando a bateria do aparelho chega ao fim ou a área de cobertura se perde; Sente medo de alguma coisa acontecer enquanto estiver fora de casa e não consiga se comunicar com a família ou com algum médico. 

Nomofobia, do inglês no (não) + mo (móbile) + phobia (fobia), é o medo e/ou sensação de angústia que surge quando o indivíduo se sente impossibilitado de se comunicar sem seu celular. É a fobia de permanecerem sem conexão móvel ou, em outras palavras, é o vício, a dependência que se tem do aparelho. Esse termo surgiu na Inglaterra, país onde mais de 50% da população possui aparelho de telefonia móvel. 

Uma pesquisa feita no pelo The Royal Post, na Inglaterra, constatou que 58% dos britânicos e 48% das britânicas possuidores de aparelho celular sofrem de nomofobia. Na França, a pesquisa feita pela empresa Mingles mostrou que 22% dos mil e quinhentos entrevistados declararam ser impossível ficar por mais de um dia sem o companheiro. A revista norte-americana Time também realizou a pesquisa. Dos cinco mil entrevistados, 79% disseram que se sentem mal sem o telefone. No Brasil, a empresa francesa Ipsos, em um estudo sobre o impacto do celular na vida cotidiana, revelou que 18% dos brasileiros admitiram ter dependência dos aparelhos.

A psicóloga Sylvia van Enck, do Ambulatório Integrado dos Transtornos do Impulso, da USP, informou que a nomofobia pode ser classificada como um transtorno do controle dos impulsos com forte componente de ansiedade. Pessoas que apresentam esse tipo de transtorno possuem dificuldade em resistir à tentação de executar um ato, mesmo que este ato seja prejudicial para si ou para os outros. E, ao executar o ato, sente a diminuição da tensão emocional, proporcionando alívio. A ansiedade também é característica do transtorno do impulso, que provoca sensação de inquietação e, em alguns casos, sintomas físicos desagradáveis.

Daniele Santoro, psicóloga, mestre em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem e especialista em Psicologia da Saúde e Hospitalar, nos explicam que "a nomofobia, apesar do nome, não está classificada, pela Organização Mundial da Saúde, entre os transtornos de ansiedade ou fobia. Ela está classificada como adicção, vício, dependência (DSM IV), em mesmo nível de vício em álcool e drogas." Daniele atende em Barra Bonita na Clínica Pró-Saúde e na prefeitura de Jaú.

Em relação às especificidades do vício, Daniele nos conta que 

"uma pesquisa realizada pelo Instituto de Psiquiatria da UFRJ aponta que ele atinge mais homens a mulheres, mas não há um perfil de pessoas que tem mais probabilidade a tal vício. Outras pesquisas comprovam que existe uma relação entre a profissão e a doença. As pessoas que necessitam estar disponíveis 24h por dia devido ao trabalho, como coordenadores, gerentes e médicos, acabam ficando predispostas à dependência."

Com o aumento de smartphones e outras tecnologias, as pessoas se distanciam do mundo real e se aproximam demais do virtual. Justamente por isso, a psicóloga afirma que essa dependência pode causar dificuldades nos relacionamentos interpessoais do nomofóbico. "Quando duas pessoas estão conversando e uma delas fica o tempo todo olhando para o celular, por exemplo, esse comportamento passa a mensagem não-verbal de que a conversa está desinteressante, causando desconforto para quem está em sua companhia." Com isso, as pessoas perdem a habilidade de se relacionar presencialmente, não se sentem a vontade para conhecer e conversar com pessoas novas e passam a preferir relacionamentos virtuais.

Diante do esclarecimento sobre essa "doença do século 21", nos resta perguntar: Como tratar?

A psicóloga Daniele Santoro responde: "Por se tratar de algo novo, ainda em estudo, o tratamento para nomofobia mais indicado na literatura é a terapia comportamental. Especificamente a técnica de retirar o objetivo de dependência, de forma gradual, ensinando o paciente a lidar com os sentimentos e emoções geradas durante essa falta. O objetivo é devolver o controle da situação ao paciente, que passou a ser refém. No entanto, para iniciar qualquer tratamento dessa natureza é preciso que o paciente se reconheça como dependente e queria ajuda."

A sociedade conectada

Nessa era tecnológica que vivemos, vícios em computador, internet, celular e redes sociais já estão sendo discutidos como doenças. A necessidade de possuir um aparelho cada vez mais sofisticado não está apenas relacionada ao consumo excessivo. Principalmente entre os jovens, o aparelho se tornou sinônimo de status e inclusão social. Ter em mãos a tecnologia mais avançada confere status econômico e a conectividade entre os amigos.

A popularização dos smartphones e dos planos de internet ilimitada fizeram com que a incidência do problema expandisse consideravelmente. A possibilidade de encontrar as respostas para todas as perguntas com apenas um clique, com a presença dos buscadores - como o Google - também nos celulares, é mais um potencializador. Uma parte da população acha que, se não estiver conectada, perde alguma coisa. E perder algo, ou não poder responder algo imediatamente, significa estar alheio ao mundo e às pessoas. Paralelamente a isso, as redes sociais criaram laços com as comunidades e há a necessidade de consultar o que se passa e fazer atualizações constantemente.

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